quarta-feira, 1 de julho de 2015

The Who - primeira incursão por Tommy


Na primeira metade da década de 1960 as bandas inglesas formadas por garotos que descobriam um mundo musical composto por Elvis Presley, Chuck Berry, Buddy Holly, Eddie Cochran, começavam a fazer sucesso. 

Músicos de rock ingleses tocavam das rádios. Gravavam discos. Faziam shows e mais shows. Alguns clubes se especializaram em fazer shows somente com o novo gênero. 

Mais importante: o público crescia. E se crescia o público, crescia também os interessado em tocar. Os garotos que compravam instrumentos e aprendiam a tocar as músicas preferidas.

E montavam bandas para tocar como aquela banda que gostavam.

É o caso de The Who. União de quatro jovens que se conheciam de vista que somente ocorreu pela vontade comum de montar uma banda de rock.

Os primeiros trabalhos da banda remam em caminho semelhante àquele que os Kinks faziam. Criação de um rock ágil, agressivo. Juntando a característica principal do rock inglês: se comunicar com sua juventude, com seus pares que os escutavam.

Mas o rock evolui para mais que um movimento geracional. Ganha profundidade. 

Beach Boys já conferiam esta profundidade do outro lado do Atlântico. E na ilha bretã era a vez dos Beatles.

Não ficando para trás, o Who lança The Who sell out, disco conceitual que reproduz uma rádio pirata, com direito a propagandas - desenvolvidas por eles mesmos de produtos reais, como a lata de feijões Heinz.

O real sucesso artístico será alcançado pelo quarteto um par de anos depois quando lançam Tommy. A primeira ópera rock conquista público e crítica. Muito mais do que uma história psicodélica, Tommy é um exercício conceitual interessante.

Como é possível contar uma história somente por meio de música, sem qualquer alegoria visual?

Como é possível trocar de narrador? Ou de situação?

Quem não conhece o trabalho poderia dizer: pela troca de faixas. Uma música se refere a um personagem.

Bom, não é tão simples. E o exercício proposto por Pete Townshend (compositor da obra) é muito mais complexo.

Isso porque as alterações de situação, personagem ou narrador ocorre no meio da música, e o retorno ocorre na própria música.

Tudo isso nos sendo dirigido pela melodia. Pela harmonia.

A música que vinha despejando a velocidade da guitarra de Townshend com a bateria de Moon e a poderosa voz de Daltrey, suaviza para sobrar apenas um clamor doce de Tommy - o protagonista surdo, cego e mudo - na voz do próprio Townshend, que pede para ser visto, sentido, tocado, curado.

Uma criação estética ímpar que elevou o rock a outro patamar.

Ouça aqui o álbum completo: Tommy
Ou ouça Go to the mirror, canção que passa da narração do médico de Tommy para o clamor interno de Tommy.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Buddy Holly - breve biografia


Vamos agora a um pouco de história.

Buddy Holly nasceu em 7 de setembro de 1936.

Ainda na década de 1940, quando criança, aprendeu a tocar violino e piano. As bases de um conhecimento clássico de música se apresentarão em seu rock, anos mais tarde.

Aprender música desde cedo certamente fez a diferença na vida de Buddy Holly. Seu pensamento torna-se musical. Sua criação é voltada para a composição de canções. Ao invés da escrita. Ou da marcenaria.

Seu irmão mais velho lhe apresenta o violão. A mudança de Buddy Holly para o instrumento é instantânea. A gravação de musicas de country o levam logo a definir a preferência por um modo de tocar aquele novo instrumento.

No Texas, o country é gênero popular. Não tarda para que o garoto comece a tocar publicamente. Juntando-se a amigos, formava duos e tocava em programas de tevê locais. Sempre country. 

E foi tocando country que ele veio a abrir um show de ninguém mais ninguém menos que Elvis Presley.

O homem que influenciou toda uma geração de roqueiros - Paul MacCartney também credita a Elvis a sua vinda ao rock - foi o ponto decisivo para o jovem Buddy Holly.

O carisma e a rebelião do astro mor do rock dos anos 1950 deram um golpe decisivo para que Buddy Holly abandonasse o country e se tornasse um roqueiro.

Tocando aqui e ali, Buddy Holly começou a ser visto. Até que em apresentação em pista de patins ele é descoberto pelo dono de um selo de discos.

Não muito depois inicia a carreira meteórica de Holly. Inicialmente com banda, depois solo.

Estoura seu primeiro hit, That'll be the day, que figura nas listas de músicas mais tocadas nas rádios e single mais comprado.

A canção tornou-se um clássico instantâneo do rock. E não seria a única.

O fato é que Buddy Holly marcou definitivamente o rock no pouco tempo que teve. (Prova disso? Estamos falando dele!)

Numa carreira que percorreu 1956 até 1959 nos foram deixadas mais de 60 canções, muitas das quais figuram no imaginário do rock 'n' roll. 

Não perca tempo, caro leitor. Conheça este clássico: 




Mais informações sobre Buddy Holly: texto 1, texto 2.

domingo, 21 de junho de 2015

Buddy Holly - I'm gonna set my foot down


Existe um ditado - que até aparece no filme Whiplash - de que quem não sabe tocar, toca rock.
O rock surgiu das margens da sociedade. E nada mais esperado de um gênero de origens tão simples que ele fosse, também, simples.

É verdade que com o tempo ele foi evoluindo. Isso porque gente que já possuía estudo musical passou a entrar na moda do momento.

Outros passaram a conhecer música e desenvolver uma estética mais refinada enquanto criavam - é o caso dos Beatles, Beach Boys, The Who.

Mas o que esperar de jovens que aprendiam a tocar nas ruas? Olhando o amigo tocar, que aprendeu com outro amigo.

Pois é, meus caros. Música não é fácil de se aprender, nem se aprende sozinho - e não sou especialista porque comento aqui, sou simplesmente um metido a besta.

Miles Davis para se tornar Miles Davis, antes, estudou na Juilliard.

Mas o rock saiu das margens da sociedade para se lançar ao centro dela. Tornou-se moda e adentrou os lares mais tradicionais.

O que acontece é que, não raro, o rock em seus muitos anos de existência, sempre foi chegado também à uma moda estética.

Se uma música - e mais tarde, álbum - dava certo com determinada proposta, outras bandas passariam a fazê-la até esgotá-la.

Porque se deu certo uma vez, dará uma segunda. E uma terceira.

E aí se dá o problema da falta de conhecimento do rock. Une-se apelo popular ao pouco conhecimento de diversificar esteticamente - coisa que seria amplamente realizada a partir da segunda metade da década seguinte.

Para exemplificar, tomamos aqui uma canção de nosso querido Buddy Holly.

I'm gonna set my foot down é um exemplo típico de canção que segue uma estrutura semelhante ao que já era feita no gênero. E porque dava certa, era repetida.

O negócio é que esta estrutura se torna o mais próximo possível de uma marca. E muitas vezes a música rockabilly será pensada como partindo de uma estrutura temporal, de pausas, semelhante à encontrada nesta música.


[note a semelhança entre a introdução da música de Holly com a introdução da canção famosa na voz de Bill Haley, Rock around the clock]

terça-feira, 16 de junho de 2015

Buddy Holly - Not Fade Away


É sabido de muitos a influência do blues no rock. Está em sua essência. No toque da guitarra. Na sonoridade agressiva. 

Não são poucos os artistas que deixam esta influência ressaltar em suas músicas. Chuck Berry. Rolling Stones. Buddy Holly.

Buddy Holly? Pois é. Um dos primeiros grandes nomes da história do rock não poderia fugir desta influência tão próxima.

Mas as músicas de Holly conseguem escapar deste agrupamento de influências, sendo possuidoras de uma característica muito mais própria ao rock que nascia e se desenvolvia que aos gêneros que o tinham moldado.

É o caso expresso das duas ultimas postagens postas aqui no blog, ambas sobre Buddy Holly.

Mas este aglutinamento dos outros gêneros, por vezes, ofereceu ao rock sua cota de juventude. Acontece na musicalidade dos citados Stones, dos Beatles, do Clash. O rock não é um gênero "puro". Em seu cerne está a união de diferentes gêneros.

E em Not fade away isto se apresenta de modo muito explícito.

É mais explícito ainda para quem escuta blues feito por Bo Diddley, por exemplo. Ao ouvir Before you accuse me percebemos a semelhança - mas não somente desta canção.

Not fade away foi gravada por muitos outros artistas (Rolling Stones, Gratefull Dead), comprovando não somente a influência de Buddy Holly no cenário roqueiro, mas também a importância desta aglutinação musical para a uma construção identitária do rock 'n' roll.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Buddy Holly - Raining in my heart


Qual seria a característica mais marcante do rock?

Muitos dirão ser a presença da guitarra. A imagem de um guitarrista salta aos olhos de muitos amantes do gênero, em grande parte devido ao grande número de bons guitarristas que surgiram ao longo das décadas. 

Jimi Hendrix, Keith Richards, George Harrison, Jimmy Page, Pete Townshend, e tantos outros.

É muito natural esta associação, em boa parte vinda da origem do rock: vejamos o caso do blues, por exemplo. No blues, muitas são as músicas tocadas se valendo somente de uma guitarra - acústica ou elétrica. A presença do instrumento é o que marca a música, o que dá seu tom de lamento. Não tanto um lamento como de Girl on my mind, que vimos anteriormente, ainda assim um lamento - a origem do termo blues.

Então, seria rock sem a presença de guitarra? Com o passar do tempo, muitos foram os exercícios que nos mostraram que sim, o rock pode ser feito sem guitarra.

Não estaria se deturpando seu princípio? De maneira alguma. Na verdade, esta construção musical ampliou o vocabulário do gênero fazendo com que uma banda como The Beatles gravassem canções tão diversas quanto Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band e She's Leaving Home em um mesmo álbum. A presença da guitarra na primeira é muito perceptível, enquanto na segunda ela é abolida.

Buddy Holly já fazia isso na década anterior. Em muitas ocasiões ele é apontado como sendo influência dos Beatles. Em música como Raining in my heart compreendemos que isso possa ser uma possibilidade, sim.

A música faz serviço semelhante ao dos Gerswin ao jazz: dar o toque de música clássica ao gênero. No caso, o instrumental roqueiro é deixado de lado para dar espaço a uma orquestra diminuída, com espaço para instrumentos de corda (violinos, violão), flauta.

O toque de classicismo ao gênero vem em boa hora. Como já dissemos, o rock não era bem visto - como novidade nenhuma costuma ser. Demonstrar que o rock não é só "barulho" é essencial. Mas mais que isso: é a oportunidade de ampliar a área de alcance das composições. Se o jazz tem diversas vertentes (trompete, piano, orquestra...), era chegado o momento de também o rock ter a sua variação.

Raining in my heart não é necessariamente a pioneira*, mas é uma das obras mais belas deste rock "orquestra".

[nota: a canção não foi composta por Buddy Holly]




*afirmo isto por desconhecimento histórico meu. Caso o leitor conheça alguma canção de rock orquestrada que date de antes de outubro de 1958, por favor, deixe nos comentários.

sábado, 6 de junho de 2015

Buddy Holly - Girl on my mind


A tradição de canções românticas já existia há muito tempo antes da chegada do rock. Muitos tipos de relacionamentos amorosos, trágicos ou felizes, recentes ou antigos já haviam sido postos no imaginário mundial por meio da música, independente de estilo.

O rock surge ainda na década de 1960 como expressão de parte de uma população oprimida e renegada ao que teria de melhor da arte. Convenhamos, arte sempre foi muito caro. Mas neste caso, serviu para o nascimento de uma nova forma de expressão. E junto a ela uma gama nova de perspectivas.

A primeira delas se faz bem clara no nome do gênero: "rock 'n' roll", aparentemente, uma expressão para sexo.

Tão logo o gênero começa a se popularizar, os jovens são os primeiros a abraçá-lo. Ele é tocado nas baladinhas, nas formaturas, nos bares. Então, as canções tem que se adaptar a este público mais jovem. É então que a cara mais popular do rock surge, se espalha, e de verdade se populariza - invadindo até mesmo programas de tevê.

Mas nosso foco aqui é uma música de Buddy Holly. Em Girl on my mind, nos é posta mais uma destas canções românticas em que há um personagem apaixonado comentando sua relação fracassada. Não preciso apontar ao leitor que nada disso era novidade e Holly não foi o primeiro a fazê-lo, certo?

O negócio é que existe algo de diferente em como a canção nos é apresentada que concede a ela um toque a mais. O lamento de um jovem apaixonado logo em seus primeiros versos fica claro: girl on my mind/ please come back to me.

É um pedido, não diferente a tantos outros que já escutamos em nossos anos de rock. O que há de diferente é exatamente a apresentação da história por Holly. Os engasgos em sua cantoria, sua marca registrada, aliás, surgem nesta canção com muito mais frequência. A canção ganha contornos de um lamento choroso, de um garoto que pede o retorno de sua amada aos prantos. Sim, aos prantos. Os engasgos de Holly dão, por fim, a impressão de que ele está a chorar enquanto clama pelo retorno de sua amada.

O choro de Buddy Holly na canção assemelha-se ao de um jovem que parece ter perdido seu primeiro amor. Nada melhor do que para um gênero renegado pelos mais velhos (ele não sabe nem cantar, menino), e escutado somente por quem poderia se identificar com aquele choro.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Buddy Holly - Learning the Game


Depois de um longo hiato, muito comum no mundo do rock, o blog retorna este ano. Não sabemos até quando, mas tentaremos ficar o máximo de tempo possível.

E para iniciar este retorno do rock que nunca morreu, nada melhor do que uma postagem sobre Buddy Holly, não? O músico que, em 1959, morreu em um acidente de avião aos 22 anos tornou-se um dos nomes mais influentes do gênero. Por quê?, você me pergunta.

As músicas de Holly, apesar de se assemelhar ao rockabilly feito por seus antecessores, buscava alguns detalhes diversos, dentre eles o foco desta postagem que é a relação melodia-letra, ou melhor, forma-conteúdo. O que é isso?

No conteúdo de qualquer obra de arte reside aquilo que é dito: no caso das músicas de rock dos anos 1950, o tema mais comum era o amor. A forma é o como se diz isso. Na canção - termo mais apropriado - temos o sujeito que canta algo, e a música que nos embala numa melodia e harmonia. A melodia deve, então, casar com aquilo que é dito pela letra. Lembre-se, caro leitor, de Garota de Ipanema, nosso clássico nacional.

Na música de Buddy Holly que escolhemos para encabeçar este nosso retorno é uma menos conhecida do público nacional: Learning the game.

Aponto para um detalhe em especial dela:
When she says that you're the only one she'll ever love
then you find that you are not the one she's thinking of

A letra nos mostra um sujeito esperançoso de ser o amor da vida da parceira, mas descobre que não é. A melodia é brusca, pontua bem cada termo, quase como se agressivamente dissesse aquilo rememorando um caso passado a um amigo. Coisa que é sustentada logo em seguida:

Feeling so sad and you're all alone and blue
That's when you're learning the game

A melodia, neste ponto, já faz um caminho diverso. Ela se torna mais suave, quase como se o narrador oculto passasse a mão na cabeça do sujeito com quem conversa dizendo: isso acontece. Até porque, é isso que a letra nos diz (estamos "aprendendo o jogo" do amor). Você se sente mal ao descobrir que ela não te ama, mas é aí que vai descobrindo como é o jogo. Um afago no garoto que acabou de levar um fora, mas faz parte.

E aqui, o link para a canção: Learning the game.